Mexo

Mexo
:::em tudo (foto: Rafael Bertelli)

sábado, abril 11, 2009

Conto Chuvoso

De repente começou a chover. Uma chuva grossa que fazia um barulhão, estalando sobre os telhados e os chãos dali. E chovia tanto – e debaixo pra cima – que meu vestido branco ficou cinza e tudo que era elegante e sóbrio, ficou transparente, quase vulgar.

Meu cabelo escorria colando na minha face e aquilo me incomodava. Afastei-o e na minha mão, três fio da merda do cabelo que teimava em cair. Sacudi a mão e os três fios não descolavam! Então esfreguei no vestido e aquilo me deu mais raiva: os três fios eram visíveis demais ali! Tudo estava extremamente visível ali. Tirei os três fios do vestido e segurei-os até encontrar uma calha que tinha um cano por onde escorria a água que estalava sobre o telhado. Estendi a mão e a água corrente levou os três fios do meu cabelo embora.

Continuei andando, o vestido já completamente transparente, irremediavelmente vulgar. Meus pés boiavam numa lama que se fez entre sua sola e os sapatos de salto. Alto. Na chuva. Sapato aberto, tipo sandália, dedos de fora, nada ideais para uma noite como aquela, pode apostar.

Oops! Uma escorregadela, um leve desequilíbrio, natural. Só não poderia cair de bunda, tinha pavor de acabar contraindo uma leptospirose! Até porque, a calha já ficara para trás e me levantando do chão, como faria pra continuar afastando meu cabelo do rosto com as mãos imundas de rua molhada? Molhada de chuva, de xixi de rato, de cuspe, escarradas... ai. Apertei o passo, queria chegar logo. Merda, um boteco. Apertei mais o passo... um mega escorregão! Não cheguei a cair, mas quis morrer ao ouvir a risada daqueles bêbados nojentos do boteco que me chamavam de todos os nomes não-castos que conseguiram se lembrar. Maravilha.

O cabelo sempre escorrendo pela cara, o vestido transparente revelando minha bunda enorme, minha calcinha de renda rosa e meus peitos sem proteção alguma além dos meus braços demasiado finos pra conseguir escondê-los. Tudo parecia especialmente devagar naquele dia. Parece que andei de Vila Isabel à Copacabana!

Até que, finalmente, cheguei. Pela última vez, afastei o cabelo do rosto e pude ver então minha sala amarela e quentinha. Corri pro banheiro. Morria de vontade de fazer xixi.

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