Mexo

Mexo
:::em tudo (foto: Rafael Bertelli)

sexta-feira, agosto 28, 2009

Aurora

Nada do que se queira é por vaidade, mas tudo o que aqui se fala é, em verdade, só querer. Eu quero te encontrar essa noite. Quero te falar ao ouvido as coisas que vivi em minhas viagens. Quero que saibas da minha vida, quero que duvides da minha coragem. Quero ver seu sorriso largo, debochado quando te disser que matei três dragões no braço, que peguei uma manada inteira num laço e que tudo isso eu faria de novo só pra ouvir essa tua gargalhada...
Hoje à noite vai ter festa
Na areia da praia, à beira-mar
Sob a luz prateada que a lua empresta
Para eu poder te achar

Tu sapateias louca na areia
Causando inveja nos mortais
Mulheres falam da vida alheia
Homens divertem-se no cais

Essas putas não me deixam! Querem meu dinheiro, meus cigarros! Não agüento mais aqui, vou até a areia falar contigo. Há tanta gente... quando enfim te encaro, a voz me trai. Espero então por um passo teu. Tu corres em outra direção. Doida, te atiras nas ondas gritando uma canção, e de novo me pego apaixonado a contemplar teu show...
É quando ouço as mulheres falando:
- Olha lá a Aurora querendo esquecer.
- Bebeu tanto a coitada. Amanhã vai sofrer.

Mas o mar ta é brabo nem ouço mais ela cantar...
A Aurora não sabe nadar, logo começa a tossir
Eu vou atrás dela tentar resgatar, ela grita “me deixa morrer! Me deixa aqui!”
Mas eu pego ela a força, ela não sabe o que diz, é muita água na ideia, eu não vou ouvir.

Já na areia, ainda fraca, a valente levanta e vem me bater. Me xinga de tudo que é nome, diz que eu não tenho o direito, que ela quer morrer.
Aí eu digo que é pra ela parar, que é pra pensar melhor, porque se ela deixar essa vida, eu vou ter que viver só. E que só eu não consigo porque também carrego dor aqui no peito:
- sem desmerecer teu sofrimento, teu bem tá morto, não tem mais jeito. O meu anda chorando por aí, e eu amo de longe por respeito. Ninguém pode trazer o teu amor de volta, que pra te ver feliz, eu mesmo já teria feito. Agora, não pede pra eu desistir do meu, porque tu não tens esse direito.