Mexo

Mexo
:::em tudo (foto: Rafael Bertelli)

terça-feira, novembro 25, 2008

Em falta

É incrível como me faltam partes quando me falta o amor.
Me falta calor à sopa,
me falta sal à carne seca,
doce à cana,
letras nos livros.
Sinto falta de graça nos palhaços e até nas flores.
Faltam-me figuras nos quadros de modo que da moldura pra dentro,
vejo apenas branco.

domingo, outubro 26, 2008

Re-afeição

Pela manhã, tomou um copo de reflexão.
Para o almoço, salada de idéias temperada com azeite de otimismo.
Jantou uma tigela de caos bem quente afim de pegar a serenidade da noite. Dormiu tranqüilo, com a mente serena. E sonhou com um universo em cores e cheiros, temperaturas e sons e só. Como que se de tão grande não pudesse ver os detalhes ou de enxergar os detalhes tão profundamente e entendê-los, tomasse enfim conhecimento do todo, da causa, do porquê que responde a tudo sem palavras, apenas tocando no íntimo, vibrando no que há de mais dentro de nós, acariciando nossa sensibilidade, acordando nossa percepção, muito além dos sentidos, muito além do tempo...

domingo, agosto 10, 2008

teatro gestual

eu não vou te pedir nada, mas para me deixar.
largue meu braço, largue meus olhos.
me deixe ir de uma vez e não atenda, não responda, não chame.
não cruze comigo nas ruas e se cruzar, faça-se invisível e a mim também.
não vai doer nada, já não dói. sabe-se que não dói.
insistir. deixar que essa zona magnética nos capture mais uma vez. voltar.
existe uma tensão que atrai. existe uma atração tensa.
estar longe só dá a falsa impressão de alívio e saudade. a falsa impressão de saudade e alívio.
afia-se facas para cada confronto. afia-se línguas. cega-se olhos. cega-se verdade.
cala-se. fala-se. trai-se nas palavras a sinceridade que falta aos gestos. traidor e criatura.

terça-feira, julho 01, 2008

Em vão

Mordo a mão na necessidade de conter seus impulsos de agarrar o telefone.
Mordo os lábios na intenção fraca de calar as declarações que quero te fazer.
Mas são as lembranças que me assaltam insistentes
Só porque não as consigo morder.


sexta-feira, junho 20, 2008

Eu sinto muito o tempo inteiro.
sinto muito por ter pisado no seu pé, esbarrado em alguém no ônibus.
Sinto muito por ter me atrasado, sinto muito porque alguém morreu.
Sinto muito por vc que tá triste, sinto muito por vc que não gosta do meu cabelo.
Sinto muito por ter falhado. Sinto muito por ter estragado tudo...
Mas o melhor é sentir muito quando é coisa boa:
Sentir muito tesão ao te tocar
Sentir muito desejo de coisas novas
Sentir muita admiração por alguém
Sentir muita vontade de criar
Sentir muito carinho pelos amigos
Sentir muito frio na barriga ao te ligar
Sentir muita força vinda do nada
Sentir muita saudade do que foi bom
Sentir muita vontade de repetir
Sentir muita algria ao fazer o bem
Sentir muita energia boa vindo de alguém
É... eu sinto muito.
E sinto muito por quem não sente nem um pouco.

Rúbia Romani

O espírito dessa mulher não lhe cabe
Transborda por todos os poros
Enche o ar de sensualidade
Faz os olhos pularem de curiosidade

O espírito dessa mulher é transparente
Chega primeiro, vai de encontro, desassossega
Enche o ar de erotismo
Faz os olhos fixarem seu sorriso

O espírito dessa mulher doa
Entrega ao mundo qualquer coisa de leveza
Enche o ar de simpatia
Faz os olhos chorarem de alegria

O espírito dessa mulher é brasa
Traz calor pra toda festa
Enche o ar de fumaça
Faz arder os olhos de tanta graça

Amiga linda, Amo vc!Se cuide e SEJA sempre!

domingo, junho 01, 2008

Tudo o há é o que já estava lá*

Esbarrei com pessoas... dessas pessoas que têm muito mais do que preciso do que qualquer trabalho remunerado pudesse me proporcionar. Pessoas ricas em coisas que não têm preço, e ansiava por encontrá-las sem saber onde.
De quando em quando, Curitiba me mostra que as coisas sempre estiveram ali e eu que vagava, e essa questão põe em cheque minha própria existência. A pergunta deixa de ser: "Nossa, onde você andava que nunca nos esbarramos?" para ser: "Onde estava eu que nunca te vi antes?"
Talvez o Rio fosse grande demais e a gente não se cruzasse. Mas talvez minha percepção tenha sido muito pequena, limitada. E hoje eu tive a sensação de estar "no lugar certo na hora certa". e fui eu que cheguei. Nunca tarde demais. E fui eu que calei. Nuna cedo demais. E algo em mim mudou, algo grande demais. E eu agredeço a vida, boa demais. Por essas coisas que não têm como medir. As idéias.
Essas coisas vivas demais.

*menção ao trabalho lindo do meu amigo Tom Lisboa, que fala poeticamente sobre as coisas que sempre estiveram lá e nunca foram ou serão iguais aos olhos de quem as vê. www.sintomnizado.com.br/tudooqueha

segunda-feira, maio 12, 2008

Embora II

Ei! Não levanta daí, não levanta! Onde vc pensa que vai?Espera! Volta aqui, senta ali, onde vc vai? Não abre essa porta, pára! Eu mandei não abrir! Onde vc vai? O que que vc tá fazendo?
Se vc pisar nessa escada... espera! Não vai! Escuta aqui uma coisa! Volta pra dentro agora! Chega disso. Sobe aqui de volta! Espera! Não sai! Não sai pra rua! Escuta... Volta pra dentro! Eu não quero ficar gritando aqui pra vizinhança ouvir! Nem pense em dobrar a esquina! Volta aqui!! Onde vc... merda! Merda!

sábado, maio 10, 2008

Embora

Lembra de ontem quando saiu lá de casa deixando o ar ainda quente, partindo em direção oposta?
Eu ainda recobrava minha lucidez buscando seus pedaços nos cantos do teto e dos móveis porque ela sempre sucumbia ao seu toque mais sutil e despedaçara-se já no primeiro, o da campanhia. E ainda que resolvesse, enfim, usar a chave não resistiria ao som dos seus passos.
Eu estou sob sua pele, meu oxigênio estão nos seus pêlos. Fragmentos do seu corpo são minha memória mais recente e é tudo muito colorido...
Seus olhos, suas orelhas, seus dentes, o dedo indicador direito, o joelho, atrás do joelho, o antebraço esquerdo onde eu ficara agarrada por minutos a fio ouvindo seu sangue correr nas veias azuis proeminentes, tão certa de que você existe, tão feliz por você ser vivo!
Lembra de ontem quando saiu lá de casa deixando o ar ainda quente, partindo em direção oposta?
O barulho da chave no aparador não me enganou. Era a sua. Era a última vez.

quarta-feira, abril 30, 2008

De deixar incrível

Meu amigo Renato Santoro é baterista há muitos anos, está terminando sua licenciatura em música na Uni-Rio e por isso vem dando aulas pra crianças com idade entre 2 e 6 anos.
Ele contou que um belo dia, no parquinho da escola, alguns de seus alunos brincavam numa casinha e o Renato fez que queria entrar na casinha. Alguns meninos logo disseram: "Não, você não pode entrar, você é adulto". E ele: "Não, eu não sou adulto, não, eu vou entrar." E aqueles: "Você é adulto sim. Não pode entrar porque é adulto!" Eis que chega um outro aluno e parte em sua defesa: "Não. Ele não é adulto não, ele é músico."

É charuto ou não é?

sábado, abril 19, 2008

Rugas

Eu já tenho rugas embaixo dos olhos.
Hoje notei que envelheço e de repente pensei que talvez seja a maquiagem ou a falta de vitaminas ou então porque quase não bebo água. Daí pensei que essas rugas e olheira são de sono e muito trabalho ou que talvez sejam da minha pele mesmo ou solidão.
Talvez porque me expresse demais pelo olhar e os olhos cansem, talvez porque tenha me expressado pouco e a cara não resista ao olhar gelado e vá cedendo. Talvez seja muito computador, talvez seja pouco chôro. Chorei ontem. Mas não esse chôro. Chôro de ter visto coisa bonita ou algo que faça o coração se espremer, a respiração suspender, o rosto contrair, coisa de se emocionar como quando a gente vê ele dormir ou espera ele chegar ou quando ele chega mesmo.
A pele melhora quando a gente faz amor ou quando simplesmente troca energia boa. A pele melhora se a gente diz e ouve mais coisas positivas que negativas, se a gente deseja mais o bem que o mal.
Isso também pode ser.
As minhas rugas devem ser de medo e ansiedade e uma ou duas de um amor não correspondido.

segunda-feira, março 31, 2008

Cruel

O frio fio fino da navalha traça um risco de amor que é cego.
Sob a carícia da lâmina que brilha

abre-se a pele em dor sem medo.
Vertendo pelo pescoço
banha-lhe as costas

lava que brota de fendas na pele alva
a alma em postas.

sábado, fevereiro 02, 2008

Tempos de escola

Estou lembrando do meu amor de escola
daquele jeito todo dele de cheirar o meu cabelo
de me ajudar com os trabalhos
de me levar pela mão até em casa

Tínhamos um beijo de dentes batidos
um abraço afogado, uma urgência nos olhares,
uma timidez nos gestos
e quatro mãos curiosas, exploradoras e cegas

E tínhamos física e química e espanhol
tal idioma maldito que se embolava nas nossas línguas
e a dele na minha, e a minha na dele
olhos bem fechados pra não escapar a concentração

Então a vida deu um salto pra fora
a minha para lá, a dele para cá
E fomos nos encontrar por acaso e falar da adolescência
e rir com as lembranças

E se encontraram também nossos lábios, afinal
e os dentes não se batiam mais
os dentes agora mordiscavam língua, lábios e pescoço
porque perdera-se a timidez dos gestos

E fomos embora juntos, eu para cá, ele também
e nos amamos tão adultos
e apesar das mesmas mãos curiosas,
os olhos eram abertos pra não escapar o momento

E fomos acordando devagar
e nos arrumamos devagar e nos abraçamos numa respiração longa
e nos olhamos pela última vez
com a calma de quem sabe que a vida não pára de saltar


*Ao Diego Machado, meu amor de escola

domingo, janeiro 13, 2008

Interrogativas

Onde estão as cores de Oliver?
Saiu de manhã para tomar sol?
Será que podemos voar até lá?
Quando pararemos de rezar?
Quem arrumou os lápis na gaveta?
Até aonde parte para sempre?
Quem pegou a saia chá de Beth?
Onde pousaram as mariposas de ontem no quarto?
Quando começa o próximo passo?
Onde se esconde o conde que perdeu o bonde?
Quem começa o trava-línguas?
Álguém tem uma palavra nova pra Hernandez?
Querem ouvir uma música sublime?
Para onde carrega Helena Tainá nos olhos?
Quantos metros quadrados de sorriso há numa nova paixão?
E se eu desistisse de vestir?
Quantos dentes de João se vê nos seus sorrisos?
E nos meus olhos, quantos sorrisos de João há?
Já tentou fragmentar um movimento?
E a saudade?
Quem vai às compras em plano médio?
Há amor a primeira vista?
Que mal há em não dizer o que pensa?
Como se desenvolve um cacoete?
Da repetição aleatória e eterna?
E a obsessão?
Já escreveu palavras que não soubesse?
Estamos chegando?
Até onde está para lá?
Quanto do céu é muito tempo?
Da terra é menos?
Você vem comigo?
O que há atrás da pele branca dele?
Pra que lado as piruetas são mais fáceis?
Quem gostaria de falar?
Por quanto tempo você é capaz de discutir um mesmo assunto?
Qual a principal característica dos fracos?
E dos fortes?
Tem certeza?
Por que não toca o telefone?
Se tocar, você atende?
O que há pra fazer em oito dias?
É pra usar a criatividade?
...