Mexo

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:::em tudo (foto: Rafael Bertelli)

quarta-feira, setembro 07, 2011

Compreensao

Eu fui assim uma pessoa bem comum. Era que nem todo mundo, mesmo que todo mundo fosse muita gente. Eu comecei um monte de livros e so terminei alguns deles. As vezes lia 2 ou 3 ao mesmo tempo e nao terminava nenhum. Eu gostei de um monte de coisas porque meus namorados gostavam delas. Eu tive muitas religioes, mas nao segui nenhuma. Eu rezei por medo e agradeci a Deus poucas vezes. Eu so acreditei em Deus quando me foi conveniente. Eu sempre fui privilegiada, mas por alguma razao, desenvolvi um panico da vida um dia me cobrar tudo. Eu sempre quis fazer terapia, costurar minhas proprias roupas, perder mais dois quilos. Eu amei meus pais, mas os via muito pouco e disse que os amava menos do que podia. Eu deixei de amar meus pais algumas vezes. Meus arrependimentos tem mais a ver com nao-ter-estado-la do que com nao-ter-falado-aquilo. Eu fiz muitas coisas por amor, mas o que o amor fez por mim nao se conta. Porque se contava, me dava panico da vida cobrar. Eu acreditei que a salvacao estava na literatura. Mas escolhi os livros errados. Eu nao fui ao casamento de muitos amigos meus. Eu nao entendi o divorcio de muitos deles. De outros, eu aplaudi por dentro. Eu vivi 88 anos cheia de amigos inteligentes, que me iluminavam com suas inteligencias... e hoje sozinha aqui, morrendo, eu me sinto mais burra do que sempre senti. Porque nao sei nem por onde recomecaria, se pudesse recomecar. Talvez eu devesse dizer que faria tudo de novo. Mas eu sou tao burra que nem sei se minhas escolhas foram certas. Eu comecei com esse questionamento muito nova. E ele veio comigo ao longo desse tempo todo, meu amigo fiel. Tinha um medo danado do meu marido. Nao podia bater o olho nele, que saia correndo. Questionamento idiota. Podia ter ido antes do meu marido. Vai ver que foi aih que a vida me cobrou.

2 comentários:

Elena Zart Blume disse...

Que coincidência! Ainda agora estava lendo uma outra vertente desse pensamento:Sempre não tive a idéia fixa de que a velhice me traria muito? Em meus jovens anos escrevi em algum lugar: primeiro nós vivemos nossa juventude, em seguida nossa juventude vive em nós. Não sei bem, ainda hoje, o que eu queria dizer com isso outrora. Mas eu tinha realmente medo de não atingir a idade de viver esta experiência; eu o sabia profundamente, uma longa vida, com todas as suas dores, vale ser vivida,. Claro, o valor da vida pode nos ficar escondido pelos desgastes sofridos pela nossa carne, nosso espírito (...) " Lou Andreas S.
Bjkiñas!

Vítor Acalanto disse...

Olá Nina, tudo bem?
Chamo-me Vítor e sou colega do seu pai em um curso de poesias. ele me falou do seu blog e eu vim conferir (pois é, ele é um pai bastante coruja rsrs). Gostei bastante dos seus textos. Parabéns. Continue escrevendo que eu estarei acompanhando.
Também tenho um blog de poesias, contos e reflexões. Se te interessar dá uma olhada: http://www.neosofista.blogspot.com/

Abraços!