Eu morei numa casa de fazenda.
De manhã, ordenhava vaca, dava milho às galinhas, cuidava da horta.
À tarde lia livros na varanda e assistia meu cão caçar rolinhas.
Eu morei numa casa de palafita na margem de um rio negro. Em época de cheia, molhava-me até o joelho pra buscar velas na cidade quando queria ler até mais tarde.
Eu morei num chalé no meio de uma floresta. No inverno, assava bata-doce na lareira e no verão, esquilos bagunçavam minha cozinha.
Eu morei num apartamento de paredes de vidro e decoração moderna no vigésimo andar de um prédio em frente ao Tamisa. Meu closet era organizado por cores e eu tinha cento e vinte e sete pares de sapatos de salto.
Eu morei num conjugado em Copacabana. Toda noite tinha briga nos corredores e pessoas transando nas escadas.
Eu morei numa república com três coreanos, um austríaco, duas americanas, um peruano e uma sueca. Toda quinta tínhamos vinho, carteado e alguma comidinha diferente. De manhã brigávamos porque ninguém queria lavar a louça.
Eu morei numa barraca azul numa comunidade hippie e todo dia dançávamos pro mar e nadávamos nus e no pôr do Sol, deitávamos na areia em silêncio até a lua chegar lá em cima.
Eu morei num navio onde fazia shows quase toda noite. Blues, valsa, can-can. Conhecia muitas cidades, muita gente interessante e ia dormir só na minha cabine sem janela.
Eu morei numa casa de porta e janelas azuis. Tinha flores na entrada, dois filhos no jardim de infância, um cachorro no tapete e um marido lindo que toda quarta jogava tênis com os amigos do trabalho.
Eu morei numa casa de gelo e um urso polar devorou meu São Bernardo.
Eu morei num apartamento de paredes coloridas. Tinha um sofá branco e eu mesma costurava minhas cortinas e almofadas. Recebia amigos pra jantar e ouvia jazz enquanto cozinhava.
Eu morei numa casa enorme num vale. Passava o ano ocupada com o jardim, o crochê e a tapeçaria. Até que chegavam as férias e meus netos disputavam aos gritos meus beijos de “boa noite”.
Eu morei num quarto embaixo do telhado da casa de uma senhora que de três em três dias pegava umas flores no jardim e arrumava-as no vaso em cima da minha penteadeira.
Eu morei num apartamento térreo junto ao Teatro. Ia sempre a pé trabalhar e no caminho cumprimentava meus vizinhos. Então nas minhas estréias, eu era sempre prestigiada por rostos conhecidos e recebia muitas flores e presentinhos.
Eu morei numa casa de esquina que meu bisavô ajudou a construir. Meus filhos vinham da universidade em feriados prolongados e nas férias viajavam cheios de amigos e mochilas.
Eu morei num sobrado em cima de um açougue.
Quase todo dia, quando chegava, o açougueiro tinha de limpar a porta onde de madrugada escreviam: “Carne é Crime”.
E da minha janela eu podia ver que ele não se importava.
Eu morei num trailer num estacionamento de frente pro rio Elba. Em noites de calor, dormia numa esteira na margem.
Eu morei no centro de uma cidade muito grande todos os andares do prédio eram lofts. O meu era o último. Tinha uma varanda em toda a volta, pé direito altíssimo, uma parede toda de vidro e um Labrador que destruiu minha coleção All Star.
Eu morei numa casa que fiz de albergue. Então era sempre muita gente por todo lado. Me pediam mais uma toalha, mais um travesseiro, mais um dia, menos vinte porcento, baralho, sugestão, companhia.
Alguns iam e voltavam. Alguns iam e mandavam postais. Alguns vinham e ficavam e se tornavam da família. Outros nem consigo me lembrar.
sábado, dezembro 01, 2007
Duas ou três coisas
Andou para lá da sua casa duas, três quadras naquela direção. Pôde jurar ter visto... e se esqueceu.
Percorreu aquele caminho com o pensamento vagando entre coisas que já nem saberia dizer... Duas ou três quadras dali e parou.
Pensou em qualquer razão pra continuar e não achou. Também em voltar não viu razão.
Então sentou-se no meio-fio frio e estranhou o conforto. Devia estar cansado. Pararam dois carros a sua frente e foi obrigado a mover-se dali. É bem verdade que permaneceria ali para sempre, inerte, absorto em pensamentos que já esquecera. Mas caminhou de volta duas ou três quadras que ele já nem reconhecia.
Dentro de casa havia uma esposa que ele se esquecera de amar por tanto tempo que ela foi virando vapor e se dissipou. No entanto, ele continuou parado no meio da sala como se fosse possível fitá-la. Olhar fixo nela como se fosse possível reconhecê-la e desistiu. Caminhou até a varanda onde o vento batia forte bagunçando seu cabelo, obrigando-o a respirar o mar e talvez fosse esse o maior de todos os sés prazeres na vida, mas já não se lembrava de nenhum.
Ouviu uma voz esquisita ao longe. Foi procurar. Uma mulher negra cantava na cozinha. Ela sorriu para ele, apontou para o fogão onde duas ou três panelas cheiravam e pôs-se a gargalhar com dentões brancos que ele não lembrava e foi virando vapor e se dissipou. Perdeu-se naquela cozinha esfumaçada.
Ele correu pro fogão a acudir uma única panela que queimava vazia. Queimou os dedos, abriu a torneira, respirou fumaça e quis xingar. Porém não se lembrava como.
Foi ao banheiro buscar qualquer coisa para os dedos que ardiam e ao girar a maçaneta da porta trancada ouviu: “To aqui, espera!”, largou-a num susto e a porta abriu-se lentamente revelando um banheiro úmido de espelho embaçado. Sua filha virara vapor e dissipara-se.
As pontas dos dedos ardiam, mas já não se lembrava de queixar-se. Teve sono. Estava exausto. Já não encontrava seu quarto, seu pijama. Adormeceu em pé, encostado na parede colorida do corredor. Dormiu dois ou três dias e isso não fazia diferença quando despertou. Descolou-se da parede em direção a sala carregando sua silhueta verde grudada às costas. Deitou-a no sofá pra descansar e também ela foi virando vapor e se dissipou.
Já não se via em lugar nenhum da casa. Não se reconhecia em espaço e tempo algum. Quis chorar mas não lembrava-se como. E não lembrar doía duas ou três coisas que ele não podia sentir porque já não sabia...
E foi virando vapor... e se dissipou.
Percorreu aquele caminho com o pensamento vagando entre coisas que já nem saberia dizer... Duas ou três quadras dali e parou.
Pensou em qualquer razão pra continuar e não achou. Também em voltar não viu razão.
Então sentou-se no meio-fio frio e estranhou o conforto. Devia estar cansado. Pararam dois carros a sua frente e foi obrigado a mover-se dali. É bem verdade que permaneceria ali para sempre, inerte, absorto em pensamentos que já esquecera. Mas caminhou de volta duas ou três quadras que ele já nem reconhecia.
Dentro de casa havia uma esposa que ele se esquecera de amar por tanto tempo que ela foi virando vapor e se dissipou. No entanto, ele continuou parado no meio da sala como se fosse possível fitá-la. Olhar fixo nela como se fosse possível reconhecê-la e desistiu. Caminhou até a varanda onde o vento batia forte bagunçando seu cabelo, obrigando-o a respirar o mar e talvez fosse esse o maior de todos os sés prazeres na vida, mas já não se lembrava de nenhum.
Ouviu uma voz esquisita ao longe. Foi procurar. Uma mulher negra cantava na cozinha. Ela sorriu para ele, apontou para o fogão onde duas ou três panelas cheiravam e pôs-se a gargalhar com dentões brancos que ele não lembrava e foi virando vapor e se dissipou. Perdeu-se naquela cozinha esfumaçada.
Ele correu pro fogão a acudir uma única panela que queimava vazia. Queimou os dedos, abriu a torneira, respirou fumaça e quis xingar. Porém não se lembrava como.
Foi ao banheiro buscar qualquer coisa para os dedos que ardiam e ao girar a maçaneta da porta trancada ouviu: “To aqui, espera!”, largou-a num susto e a porta abriu-se lentamente revelando um banheiro úmido de espelho embaçado. Sua filha virara vapor e dissipara-se.
As pontas dos dedos ardiam, mas já não se lembrava de queixar-se. Teve sono. Estava exausto. Já não encontrava seu quarto, seu pijama. Adormeceu em pé, encostado na parede colorida do corredor. Dormiu dois ou três dias e isso não fazia diferença quando despertou. Descolou-se da parede em direção a sala carregando sua silhueta verde grudada às costas. Deitou-a no sofá pra descansar e também ela foi virando vapor e se dissipou.
Já não se via em lugar nenhum da casa. Não se reconhecia em espaço e tempo algum. Quis chorar mas não lembrava-se como. E não lembrar doía duas ou três coisas que ele não podia sentir porque já não sabia...
E foi virando vapor... e se dissipou.
(P) Tenso
Está esticada entre nós uma linha tênue de tensão.
Já não falo sem medo nem te olho sem desconfiar de que a qualquer instante a linha se romperá.
E você, pobre coitado, a buscar em mim algo que te lembre de gostar.
E tantas vezes não encontra para em tantas outras encontrar coisas gostáveis, gastáveis.
É que o gostar não está no outro, nem adianta procurar.
Gostar não é verbo de fora pra dentro, é coração e é traiçoeiro.
Já não falo sem medo nem te olho sem desconfiar de que a qualquer instante a linha se romperá.
E você, pobre coitado, a buscar em mim algo que te lembre de gostar.
E tantas vezes não encontra para em tantas outras encontrar coisas gostáveis, gastáveis.
É que o gostar não está no outro, nem adianta procurar.
Gostar não é verbo de fora pra dentro, é coração e é traiçoeiro.
Pra perder um grande amor
Pra perder um grande amor
Tem que haver mais que discussão
Tem que faltar carinho, compreensão.
Pra perder um grande amor
Não é questão de incompetência
É preciso mais que desatenção
Bem mais que impaciência
Pra perder um grande amor
Tem que haver mais que traição
Tem que faltar diálogo, perdão.
Pra perder um grande amor
Não é questão de ignorância
É preciso mais que confusão
Bem mais que arrogância.
Pra perder um grande amor
É preciso ter deixado de gostar
Ter perdido a importância
Senão, dois não se separam.
Não há porquê.
Se uma conversa e um abraço reparam
Pra que insistir em doer?
Tem que haver mais que discussão
Tem que faltar carinho, compreensão.
Pra perder um grande amor
Não é questão de incompetência
É preciso mais que desatenção
Bem mais que impaciência
Pra perder um grande amor
Tem que haver mais que traição
Tem que faltar diálogo, perdão.
Pra perder um grande amor
Não é questão de ignorância
É preciso mais que confusão
Bem mais que arrogância.
Pra perder um grande amor
É preciso ter deixado de gostar
Ter perdido a importância
Senão, dois não se separam.
Não há porquê.
Se uma conversa e um abraço reparam
Pra que insistir em doer?
Ser e não ser
Homem sem amor é só Humano
Homem sem amor é raso.
Homem sem amor é quase vão
Homem sem amor é negação
Homem sem amor é água morna
Homem sem amor não tem porquê
Homem sem amor cara blasé
Homem sem amor a alma seca
Homem sem amor o corpo peca
Homem sem amor pernas sem rumo
Homem sem amor é voz calada
Homem sem amor é mão lavada
Homem sem amor é quase quase
Homem sem amor não faz sentido
Homem sem amor vestido antigo
Homem sem amor copo vazio
Homem sem amor ressaca braba
Homem sem amor casa arrumada
Homem sem amor comida fria
Homem sem amor, amanhecer sem dia.
Homem sem amor papo furado
Homem sem amor é Djavan
Homem sem amor capa de chuva
Homem sem amor é só amigo
Homem sem amor ao pé do ouvido.
Homem sem amor jantar sem pressa
Homem sem amor calma fingida
Homem sem amor falta uma peça
Homem sem amor o sangue esfria
Homem sem amor é língua presa
Homem sem amor tem tempo morto.
Homem sem amor, medo.
Homem sem amor, pássaro pousado.
Homem sem amor, massa folhada.
Homem sem amor não é piada.
Homem sem amor canção no rádio
Homem sem amor, cem pensamentos.
Homem sem amor lugar comum
Homem sem amor é morte lenta.
Homem sem amor dentro de si
Homem sem amor, viagem curta.
Homem sem amor lexotan
Homem sem amor jornal da tarde
Homem sem amor assunto sério
Homem sem amor espeto
Homem sem amor novela
Homem sem amor amor sem Homem
Homem sem amor sem Homem
Homem sem Homem
Homem e só.
Homem só.
Homem sem amor é raso.
Homem sem amor é quase vão
Homem sem amor é negação
Homem sem amor é água morna
Homem sem amor não tem porquê
Homem sem amor cara blasé
Homem sem amor a alma seca
Homem sem amor o corpo peca
Homem sem amor pernas sem rumo
Homem sem amor é voz calada
Homem sem amor é mão lavada
Homem sem amor é quase quase
Homem sem amor não faz sentido
Homem sem amor vestido antigo
Homem sem amor copo vazio
Homem sem amor ressaca braba
Homem sem amor casa arrumada
Homem sem amor comida fria
Homem sem amor, amanhecer sem dia.
Homem sem amor papo furado
Homem sem amor é Djavan
Homem sem amor capa de chuva
Homem sem amor é só amigo
Homem sem amor ao pé do ouvido.
Homem sem amor jantar sem pressa
Homem sem amor calma fingida
Homem sem amor falta uma peça
Homem sem amor o sangue esfria
Homem sem amor é língua presa
Homem sem amor tem tempo morto.
Homem sem amor, medo.
Homem sem amor, pássaro pousado.
Homem sem amor, massa folhada.
Homem sem amor não é piada.
Homem sem amor canção no rádio
Homem sem amor, cem pensamentos.
Homem sem amor lugar comum
Homem sem amor é morte lenta.
Homem sem amor dentro de si
Homem sem amor, viagem curta.
Homem sem amor lexotan
Homem sem amor jornal da tarde
Homem sem amor assunto sério
Homem sem amor espeto
Homem sem amor novela
Homem sem amor amor sem Homem
Homem sem amor sem Homem
Homem sem Homem
Homem e só.
Homem só.
Bad day Good day
Estou me sentindo burra.
Quero saber mais filosofia.
Quero entender sobre a atualidade.
Quero ter uma vaga idéia de onde vamos parar.
Quero ter opinião.
Preciso ler mais.
Ler coisas que me despertem o entendimento, que contribuam para minha formação enquanto Ser Pensante (eca).
Quero conhecer gente.
Gente que me diga coisas que somem (e sumam).
Quero ouvir sobre o mundo e ser capaz de desenvolver uma percepção que me clareie idéias.
Quero minhas frases. Quero minhas frases capazes de contribuir para a produção de alguma informação que valha.
Estou no mundo e não sei nada.
E não sei por que tudo em volta me surpreende ao mesmo tempo em que chateia.
Estou cega no mundo.
Farta da minha ignorância.
Quero saber mais filosofia.
Quero entender sobre a atualidade.
Quero ter uma vaga idéia de onde vamos parar.
Quero ter opinião.
Preciso ler mais.
Ler coisas que me despertem o entendimento, que contribuam para minha formação enquanto Ser Pensante (eca).
Quero conhecer gente.
Gente que me diga coisas que somem (e sumam).
Quero ouvir sobre o mundo e ser capaz de desenvolver uma percepção que me clareie idéias.
Quero minhas frases. Quero minhas frases capazes de contribuir para a produção de alguma informação que valha.
Estou no mundo e não sei nada.
E não sei por que tudo em volta me surpreende ao mesmo tempo em que chateia.
Estou cega no mundo.
Farta da minha ignorância.
segunda-feira, novembro 05, 2007
quinta-feira, outubro 25, 2007
Lágrima
Dentro de mim há um buraco.
Tenho muito medo de cair lá dentro.
Não há nada lá além de mim mesmo.
Tenho muito medo de cair em mim.
Tenho muito medo de cair lá dentro.
Não há nada lá além de mim mesmo.
Tenho muito medo de cair em mim.
domingo, outubro 14, 2007
Só chove
Chove e eu tenho livros.
Chove e eu tenho edredom.
Chove e eu tenho filmes.
Chove e eu tenho sopa.
Chove e eu tenho brigadeiro de panela.
Chove e eu tenho meias.
Chove e eu sou só.
Chove e eu tenho edredom.
Chove e eu tenho filmes.
Chove e eu tenho sopa.
Chove e eu tenho brigadeiro de panela.
Chove e eu tenho meias.
Chove e eu sou só.
sábado, agosto 18, 2007
A você
Não tem jeito de despedida essa última vez que faço o caminho de você para meu trabalho. Deve ser a ficha entalada na garganta junto com as milhares de coisas que tenho pra te dizer. Ficha que não caiu, palavras que me fogem boca adentro e se perdem dentro de mim, se escondem em meus pulmões, brigam espaço com minhas veias, furam meu estômago, meus ossos, causando dor, asfixiando, fazendo chorar.
Há tanto ainda a ser dito...
Obrigada.
Por você ter se jogado, ter se permitido.
Obrigada.
Por você ter me correspondido, por ter se empenhado.
Obrigada.
Por você ter confiado em mim para chorar, para ser.
Obrigada.
Por ter me dado a família que sempre quis e por acreditar nela. Eu acredito.
Obrigada.
Por cada momentinho inédito ou não que foi especial por ter sido só nosso.
Obrigada.
Por me achar linda e me dizer e me mostrar.
Obrigada.
Por me criticar, me brigar, me reclamar, me corrigir, me melhorar.
Obrigada.
Por me ouvir, me entender, por argumentar.
Obrigada.
Por me incentivar, acreditar em mim, me emocionar...
Obrigada.
Por ecrever, por cantar, por contar, por tocar, por pedalar
para eu ler, ouvir, chorar, acompanhar, vibrar.
Obrigada.
Por ter tentado tudo, por ter pedido pra eu ficar, por ter se arrependido, por ter me querido tanto, por ter me amado o muito, por ter me libertado.
Obrigada.
Por ter sido a melhor parte de mim e por permanecer.
Obrigada.
Há tanto ainda a ser dito...
Obrigada.
Por você ter se jogado, ter se permitido.
Obrigada.
Por você ter me correspondido, por ter se empenhado.
Obrigada.
Por você ter confiado em mim para chorar, para ser.
Obrigada.
Por ter me dado a família que sempre quis e por acreditar nela. Eu acredito.
Obrigada.
Por cada momentinho inédito ou não que foi especial por ter sido só nosso.
Obrigada.
Por me achar linda e me dizer e me mostrar.
Obrigada.
Por me criticar, me brigar, me reclamar, me corrigir, me melhorar.
Obrigada.
Por me ouvir, me entender, por argumentar.
Obrigada.
Por me incentivar, acreditar em mim, me emocionar...
Obrigada.
Por ecrever, por cantar, por contar, por tocar, por pedalar
para eu ler, ouvir, chorar, acompanhar, vibrar.
Obrigada.
Por ter tentado tudo, por ter pedido pra eu ficar, por ter se arrependido, por ter me querido tanto, por ter me amado o muito, por ter me libertado.
Obrigada.
Por ter sido a melhor parte de mim e por permanecer.
Obrigada.
Culpa
Existe um lugar no ano que permite que sejamos
Existe um vazio na melodia que permite um improviso
Existe uma distância entre o “ser ou não ser” que grita uma fuga
Existe um lugar aonde dentro de cada um acontece o encontro com o pior de si
Existe um vazio no lugar comum que permite uma queda
Existe uma distância entre o passo e o ficar que sugere a hesitação
Existe um lugar onde há perdão
Existe um vazio onde se esconde a culpa
Existe uma distância entre nós dois que é nada mais que uma desculpa
Existe a desculpa
A des-culpa.
Existe um vazio na melodia que permite um improviso
Existe uma distância entre o “ser ou não ser” que grita uma fuga
Existe um lugar aonde dentro de cada um acontece o encontro com o pior de si
Existe um vazio no lugar comum que permite uma queda
Existe uma distância entre o passo e o ficar que sugere a hesitação
Existe um lugar onde há perdão
Existe um vazio onde se esconde a culpa
Existe uma distância entre nós dois que é nada mais que uma desculpa
Existe a desculpa
A des-culpa.
Por amor
Ele a olha tristemente
Sente-se vencido, já nem canta mais
Ela sabe o que fazer
“E se ele não sobreviver?”
“E se eu não sobreviver?”
A garotinha agarra no banco, posiciona-o diante da janela escancarada, trepa nele com cuidado de equilibrista, estica-se para cima e com algum esforço (porque o outro algum, que completaria o todo, não tinha certeza) ampara a gaiola com uma das mãos enquanto deixa correr a outra sobre a portinhola que se abre lentamente. O passarinho hesita um segundo, a menina sente seu coração bater mais forte, então ele toma a decisão e ganha o azul do céu. Ela nem pôde tocar-lhe as penas pela última vez. No entanto acompanha seu vôo céu afora com um sorriso, os olhos miúdos querendo chorar e o coração apertado meio triste, meio feliz. Metade saudade, metade coragem.
Se ela logo fechou a janela e foi ver os desenhos ou se ficou a sofrer em sua cama a falta que lhe fazia o bichinho, não sabemos. Há quem diga que depressa voltou-se para suas bonecas e que vestia-as e penteava-as. Numa um rabo-de-cavalo, na outra os sapatos de fivela. Mas que de noite, quando se foi deitar, apesar do frio lá fora, deixou entreaberta a janela aonde ainda pendia a gaiola.
Sente-se vencido, já nem canta mais
Ela sabe o que fazer
“E se ele não sobreviver?”
“E se eu não sobreviver?”
A garotinha agarra no banco, posiciona-o diante da janela escancarada, trepa nele com cuidado de equilibrista, estica-se para cima e com algum esforço (porque o outro algum, que completaria o todo, não tinha certeza) ampara a gaiola com uma das mãos enquanto deixa correr a outra sobre a portinhola que se abre lentamente. O passarinho hesita um segundo, a menina sente seu coração bater mais forte, então ele toma a decisão e ganha o azul do céu. Ela nem pôde tocar-lhe as penas pela última vez. No entanto acompanha seu vôo céu afora com um sorriso, os olhos miúdos querendo chorar e o coração apertado meio triste, meio feliz. Metade saudade, metade coragem.
Se ela logo fechou a janela e foi ver os desenhos ou se ficou a sofrer em sua cama a falta que lhe fazia o bichinho, não sabemos. Há quem diga que depressa voltou-se para suas bonecas e que vestia-as e penteava-as. Numa um rabo-de-cavalo, na outra os sapatos de fivela. Mas que de noite, quando se foi deitar, apesar do frio lá fora, deixou entreaberta a janela aonde ainda pendia a gaiola.
Por fim
Que te dei eu?
O impulso para acreditares que funcionaria
O impulso que te falta para tudo
O impulso.
É isso que sou, é o que tenho.
Aquele impulso que te leva a dar o primeiro passo para não estares parado.
O mesmo impulso que amaldiçoas por te encontrares agora perdido num caminho que nem fazes idéia. Caminho esse que te culpas por teres escolhido e nem lembras se de fato escolheste.
Um caminho que já não queres apesar dos inúmeros “e se...?” que, sabes, carregarias para sempre.
Pois bem. Que seja minha a mão a guiar-te. Deixa cair sobre ela a última gota de confiança que tens guardada.
Não te desapontarei. Também eu tenho razões para me redimir. Tenho sim responsabilidade por ter te empurrado a um caminho que já não posso prometer não haver abismos porque, de sinuoso que é, perdeu-se da minha visão ele também.
Aceita minha mão pela última vez.
E não perguntes se estou certa do que faço pois para mim, a certeza é estrepe. Mas sossega se te digo que ver-te em paz serve-me de alento.
Trilharei novos rumos, terei outras companhias que isto é fatal.
Mas não antes de te deixar em terra firme onde te sintas seguro e possas respirar e enfim percorrer com tuas próprias pernas os lugares que te coração inventar porque que ele se engana, se engana. Mas só quer acertar.
O impulso para acreditares que funcionaria
O impulso que te falta para tudo
O impulso.
É isso que sou, é o que tenho.
Aquele impulso que te leva a dar o primeiro passo para não estares parado.
O mesmo impulso que amaldiçoas por te encontrares agora perdido num caminho que nem fazes idéia. Caminho esse que te culpas por teres escolhido e nem lembras se de fato escolheste.
Um caminho que já não queres apesar dos inúmeros “e se...?” que, sabes, carregarias para sempre.
Pois bem. Que seja minha a mão a guiar-te. Deixa cair sobre ela a última gota de confiança que tens guardada.
Não te desapontarei. Também eu tenho razões para me redimir. Tenho sim responsabilidade por ter te empurrado a um caminho que já não posso prometer não haver abismos porque, de sinuoso que é, perdeu-se da minha visão ele também.
Aceita minha mão pela última vez.
E não perguntes se estou certa do que faço pois para mim, a certeza é estrepe. Mas sossega se te digo que ver-te em paz serve-me de alento.
Trilharei novos rumos, terei outras companhias que isto é fatal.
Mas não antes de te deixar em terra firme onde te sintas seguro e possas respirar e enfim percorrer com tuas próprias pernas os lugares que te coração inventar porque que ele se engana, se engana. Mas só quer acertar.
Puta da vida
Puta da vida.
É isso que eu quero ser quando eu crescer
Andar pela noite colorida que nem borboleta, mascar chiclete com a boca aberta...
Fazer sucesso com os rapazes.
Usar as roupas mais doidas sem que ninguém me encha o saco.
Fazer o quiser com meus cabelos. Vou pintar de loiro. Loiro com mechas ruivas. Ruivas, não! Cor-de-rosa.
As unhas serão sempre vermelhas e com glitter. Aliás vou usar glitter nos olhos também, por cima da sombra azul. Cílios postiços... ou não, às vezes um bom rímel resolve.
Eu vou poder fumar cigarro!!
Ninguém se incomodará, aposto. Ainda mais se eu estiver usando um vestido bem decotado. Vermelho.
Eu vou dar pra quem eu quiser!
Jamais ouvirei alguém me dizer: “Nada de sapatos de salto, fazem mal pra coluna.” HAHAHA...
Meus saltos serão os mais altos!
E eu vou andar neles sem cair. E vou rebolar muito quando andar. Todo mundo vai me chamar de gostosa.
Ah. E eu também vou mudar de nome. Meu nome será... Pietra. Pietra, A puta. E nunca mais vou ouvir : “Alice Paula Matoso Vieira” O que sempre me deixou muito, muito puta da vida.
É isso que eu quero ser quando eu crescer
Andar pela noite colorida que nem borboleta, mascar chiclete com a boca aberta...
Fazer sucesso com os rapazes.
Usar as roupas mais doidas sem que ninguém me encha o saco.
Fazer o quiser com meus cabelos. Vou pintar de loiro. Loiro com mechas ruivas. Ruivas, não! Cor-de-rosa.
As unhas serão sempre vermelhas e com glitter. Aliás vou usar glitter nos olhos também, por cima da sombra azul. Cílios postiços... ou não, às vezes um bom rímel resolve.
Eu vou poder fumar cigarro!!
Ninguém se incomodará, aposto. Ainda mais se eu estiver usando um vestido bem decotado. Vermelho.
Eu vou dar pra quem eu quiser!
Jamais ouvirei alguém me dizer: “Nada de sapatos de salto, fazem mal pra coluna.” HAHAHA...
Meus saltos serão os mais altos!
E eu vou andar neles sem cair. E vou rebolar muito quando andar. Todo mundo vai me chamar de gostosa.
Ah. E eu também vou mudar de nome. Meu nome será... Pietra. Pietra, A puta. E nunca mais vou ouvir : “Alice Paula Matoso Vieira” O que sempre me deixou muito, muito puta da vida.
Solidão
Antes que eu pudesse ver de novo, sumiu.
E o que nada era antes continuou.
Então foi estando assim, foi permanecendo
Eu olhando e vendo aquilo
aquilo que continuava nada como antes
Não sendo vazio nem cheio, não sendo
Eu ali parado a pouca distância daquilo
Olhando fixamente para encontrar
E fui caminhando em sua direção lentamente
com cuidado de quem não quer ser escutado
e tomei o seu lugar.
Aquilo agora ocupava todo meu redor.
Ao redor havia mais nada
e só isso comprova que eu estive ali
Então comecei a correr de um nada pro outro
Tomando furiosamente seu lugar
Preenchendo o espaço
E de tão rápido que eu era
me via no caminho quando já havia chegado
E a idéia do nada estar povoado de mim me fez parar
Eu preferia estar só.
E o que nada era antes continuou.
Então foi estando assim, foi permanecendo
Eu olhando e vendo aquilo
aquilo que continuava nada como antes
Não sendo vazio nem cheio, não sendo
Eu ali parado a pouca distância daquilo
Olhando fixamente para encontrar
E fui caminhando em sua direção lentamente
com cuidado de quem não quer ser escutado
e tomei o seu lugar.
Aquilo agora ocupava todo meu redor.
Ao redor havia mais nada
e só isso comprova que eu estive ali
Então comecei a correr de um nada pro outro
Tomando furiosamente seu lugar
Preenchendo o espaço
E de tão rápido que eu era
me via no caminho quando já havia chegado
E a idéia do nada estar povoado de mim me fez parar
Eu preferia estar só.
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