Ele a olha tristemente
Sente-se vencido, já nem canta mais
Ela sabe o que fazer
“E se ele não sobreviver?”
“E se eu não sobreviver?”
A garotinha agarra no banco, posiciona-o diante da janela escancarada, trepa nele com cuidado de equilibrista, estica-se para cima e com algum esforço (porque o outro algum, que completaria o todo, não tinha certeza) ampara a gaiola com uma das mãos enquanto deixa correr a outra sobre a portinhola que se abre lentamente. O passarinho hesita um segundo, a menina sente seu coração bater mais forte, então ele toma a decisão e ganha o azul do céu. Ela nem pôde tocar-lhe as penas pela última vez. No entanto acompanha seu vôo céu afora com um sorriso, os olhos miúdos querendo chorar e o coração apertado meio triste, meio feliz. Metade saudade, metade coragem.
Se ela logo fechou a janela e foi ver os desenhos ou se ficou a sofrer em sua cama a falta que lhe fazia o bichinho, não sabemos. Há quem diga que depressa voltou-se para suas bonecas e que vestia-as e penteava-as. Numa um rabo-de-cavalo, na outra os sapatos de fivela. Mas que de noite, quando se foi deitar, apesar do frio lá fora, deixou entreaberta a janela aonde ainda pendia a gaiola.
sábado, agosto 18, 2007
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