Vai, vai daqui
Eu não te quero mais aqui
É por isso que te empurro
Não há nada aqui pra você
Eu não tenho nada pra você
O que tenho por você não basta
Não sei você, mas eu sei
Que pra você não basta
Vai embora
Estou te empurrando
Eu sei que dói
No peito e nos ombros
Que aperto com violência
Enquanto te empurro pra porta
Porque se não levas nada daqui
Leva pelo menos
Os hematomas nos ombros
Até que um dia alguém os toque
E os fazendo doer
Te faça lembrar
Que um dia os machuquei
Porque não quis me acompanhar
Até a porta aberta
O corredor escuro
O elevador chegando
Eu te empurro
Eu te empurro
Pro cubículo aceso
A porta pesada
Que parta pra sempre
O elevador descendo
Com teus olhos dentro
Com tua boca dentro
Tua cara toda dentro
Do elevador descendo
A cara toda molhada
De pedir, de implorar
Que não quer nada
Eu sou um surdo emocional,
Tua cega burra!
terça-feira, novembro 08, 2011
terça-feira, novembro 01, 2011
A Wendy cresceu
Vem comigo pra minha terra do nunca!
Onde não há água e nem sede,
Não há terra, nem aterrissagens
Não há rios, não há margens
Onde nada se doa e nada se pede
Vem pra minha terra do nunca!
Nem suspender um suspiro
Ou soprar uma bufada
Vem pra essa terra do nunca!
Onde a visão é o cerco
O desejo, a mentira, o amor, a cura
Aqui não erro, não acerto
Nada se desprende ou se acumula
Vem pra terra do nunca!
Minha, sua e de ninguém
Porque aqui não há posse ou conquista
Não tem pra trás, não tem além
Aqui não há olho no olho e nunca se pisca
Onde não há água e nem sede,
Não há terra, nem aterrissagens
Não há rios, não há margens
Onde nada se doa e nada se pede
Vem pra minha terra do nunca!
Onde jamais se soube de um sorriso
Não se ouviu cair uma lágrimaNem suspender um suspiro
Ou soprar uma bufada
Vem pra essa terra do nunca!
Onde a visão é o cerco
O desejo, a mentira, o amor, a cura
Aqui não erro, não acerto
Nada se desprende ou se acumula
Vem pra terra do nunca!
Minha, sua e de ninguém
Porque aqui não há posse ou conquista
Não tem pra trás, não tem além
Aqui não há olho no olho e nunca se pisca
quarta-feira, setembro 07, 2011
Compreensao
Eu fui assim uma pessoa bem comum. Era que nem todo mundo, mesmo que todo mundo fosse muita gente.
Eu comecei um monte de livros e so terminei alguns deles.
As vezes lia 2 ou 3 ao mesmo tempo e nao terminava nenhum.
Eu gostei de um monte de coisas porque meus namorados gostavam delas.
Eu tive muitas religioes, mas nao segui nenhuma.
Eu rezei por medo e agradeci a Deus poucas vezes.
Eu so acreditei em Deus quando me foi conveniente.
Eu sempre fui privilegiada, mas por alguma razao, desenvolvi um panico da vida um dia me cobrar tudo.
Eu sempre quis fazer terapia, costurar minhas proprias roupas, perder mais dois quilos.
Eu amei meus pais, mas os via muito pouco e disse que os amava menos do que podia.
Eu deixei de amar meus pais algumas vezes.
Meus arrependimentos tem mais a ver com nao-ter-estado-la do que com nao-ter-falado-aquilo.
Eu fiz muitas coisas por amor, mas o que o amor fez por mim nao se conta. Porque se contava, me dava panico da vida cobrar.
Eu acreditei que a salvacao estava na literatura.
Mas escolhi os livros errados.
Eu nao fui ao casamento de muitos amigos meus. Eu nao entendi o divorcio de muitos deles. De outros, eu aplaudi por dentro.
Eu vivi 88 anos cheia de amigos inteligentes, que me iluminavam com suas inteligencias... e hoje sozinha aqui, morrendo, eu me sinto mais burra do que sempre senti. Porque nao sei nem por onde recomecaria, se pudesse recomecar. Talvez eu devesse dizer que faria tudo de novo. Mas eu sou tao burra que nem sei se minhas escolhas foram certas.
Eu comecei com esse questionamento muito nova. E ele veio comigo ao longo desse tempo todo, meu amigo fiel. Tinha um medo danado do meu marido. Nao podia bater o olho nele, que saia correndo. Questionamento idiota. Podia ter ido antes do meu marido. Vai ver que foi aih que a vida me cobrou.
sexta-feira, junho 10, 2011
Festa de quinze anos e o sagrado que ninguém respeita
segunda-feira, maio 23, 2011
Sobre provérbio chinês
O velho mestre sentou-se no chão em frente a pequena menina e puxou para o meio deles o cesto sagrado das palavras que irrigam a alma. Ele falou para a discípula: Você agora olha pra dentro deste cesto, escolhe uma palavra e puxa-a pra fora com a mão, depois escolhe outra palavra e puxa-a pra fora com a outra mão. Sem hesitar a menina enfia as mãos no cesto e agarra suas palavras. Uma é Carisma. A outra, Humildade.
segunda-feira, março 07, 2011
Pra não perder o costume
Foi engraçado porque ela começou a se jogar pra cima de mim. Atriz. Não acontecia há muito tempo comigo. Fiquei nervoso, tentado, ridículo, sei lá. Engraçado.
Eu percebi a tensão de cara. Ela procurando os meus olhos a qualquer custo.
Me passa o cardápio por favor? A mão estendida na minha direção, os olhos enxergando o outro lado da minha cabeça. Desviei o olhar do dela, foquei "Caldo de mocotó", Pera, ainda to escolhendo. Ela continuava a olhar nos meus olhos, meu nariz sobre o cardápio sobre a mesa, mas o olhar dela, eu sentia, penetrava aquele espaço e vinha confrontar o meu, paralisando minha leitura, porque se mudasse de linha, se espalhasse o foco, podia ser que me pegasse, podia ser que eu olhasse também pra ela de novo, e a gente sabia que não ia prestar. Eu vou de caldo de mocotó. Toma. Virei-me precipitado para o balcão, Amigo! Mais uma cerveja. E quando voltei decidido a confrontá-la, a resistir, alívio breve, seus olhos miravam o copo a minha frente, ainda metade cheio de cerveja. Contemplada com minha confusão, deitou e rolou seus olhos nos meus. A cerveja vai esquentar, Roberto. Você gosta de cerveja quente? Sarcástica ainda. Venceu. Não, eu não gosto de cerveja quente. E também não gosto de caldo de mocotó.
segunda-feira, janeiro 24, 2011
Conto de real tristeza
Eu peguei na mãozinha dele e disse:
- Vem. Você vem comigo. Quer vir?
Ele respondeu:
- Quero.
Levei ele pra casa, enchi a banheira bem quente cheia de espuma e falei que ele não precisava ter pressa, que podia brincar à vontade, que qualquer coisa chamasse, que eu estaria na cozinha.
Lá, tudo começou a me confundir. Achei melhor perguntar:
- Você tomou café da manhã?
- Café, não. Comi biscoito só.
Biscoito.
- Depois do banho, você vai querer almoçar ou ver um pouco de TV?
A demora da resposta me cortou o peito em sete.
- Ver TV.
- ok.
Voltei pra cozinha e segundos depois, ele estava na porta, me olhando, ainda quase todo molhado de pressa e vestindo as velhas roupinhas sujas:
- Posso ver TV agora, tia?
Eu sorri:
- Pera. Antes eu vou te dar um short meu e uma blusa pra você ficar em casa enquanto eu lavo sua roupa, o que acha?
Ele me olhou. Me media.
Eu ri:
- Vai ficar engraçado, mas é só enquanto espera. É que você tá tão lindão e cheiroso que a roupa precisa ficar assim Também, não acha?
- uhum. – respondeu desconfiado.
Fomos juntos no quarto e ele quis vestir minha blusa do Flamengo. Ficou realmente engraçado. A blusa chegava ao joelho dele. O short era um de corrida, da época que eu era menor porque corria.
Sentou na pontinha do sofá, como quem não quer parecer à vontade demais, invasivo.
Quis trazer o almoço pra ele na sala, pra comer diante da TV, porque me arrependera de tê-lo feito decidir entre a comida e à tv, mas daí pensei que era melhor não.
Talvez essa tenha sido a primeira vez que alguém lhe tenha dado a chance de escolher. Não podia estragar tudo.
Depois de algum tempo assistindo desenhos, perguntei:
- Tá com fome agora? Vamos na cozinha almoçar?
Ele estava vidrado na TV:
- Tô com fome agora não.
- A gente pode comer e voltar pra sala. A TV não vai sair correndo.
Ele concordou.
- Mistura pra mim também? – perguntou enquanto eu o servia de carne moída, em cima do purê de batata, como gostava no meu prato.
- Ué, por que não?
- É que em casa, quando tem mistura, é só pros adultos.
Eu perdi a fome. Olhei pro meu prato e o imaginei vazio. Depois, só com arroz, e só com o feijão, e depois só com a batata. E tive nojo da carne moída.
Comi assim mesmo. Comia rápido, querendo que aquilo acabasse logo.
Ele comia devagar, querendo talvez que durasse pra sempre? Esquecera da TV? Essas idéias me furaram o estômago.
Não comeu mais do que estava em seu prato; eu nem coloquei muito. Não repetiu e também não deixou nada.
- Posso pegar um pouco d’água? – ele tava sorrindo. Eu querendo chorar.
- Claro, tem copo ali. – e foi até o filtro. Gostou do botão do filtro.
Encheu o copo de água bem gelada, que doeu no dente:
- Ai, – sorrindo de novo – vou ter que esperar esquentar um pouco. – Estava de repente tímido, como se tivesse feito uma travessura, ou como se tivesse abusado da minha hospitalidade, enchendo o copo com meu raríssimo artigo de luxo: a água gelada pelo filtro com botão e luzinha.
Eu sorri envergonhada. Envergonhada de mim, do meu país, do meu filtro. Ele não percebeu e me perdoou:
- Vamos ver TV, tia? Daqui a pouco tenho que ir embora.
- Vem. Você vem comigo. Quer vir?
Ele respondeu:
- Quero.
Levei ele pra casa, enchi a banheira bem quente cheia de espuma e falei que ele não precisava ter pressa, que podia brincar à vontade, que qualquer coisa chamasse, que eu estaria na cozinha.
Lá, tudo começou a me confundir. Achei melhor perguntar:
- Você tomou café da manhã?
- Café, não. Comi biscoito só.
Biscoito.
- Depois do banho, você vai querer almoçar ou ver um pouco de TV?
A demora da resposta me cortou o peito em sete.
- Ver TV.
- ok.
Voltei pra cozinha e segundos depois, ele estava na porta, me olhando, ainda quase todo molhado de pressa e vestindo as velhas roupinhas sujas:
- Posso ver TV agora, tia?
Eu sorri:
- Pera. Antes eu vou te dar um short meu e uma blusa pra você ficar em casa enquanto eu lavo sua roupa, o que acha?
Ele me olhou. Me media.
Eu ri:
- Vai ficar engraçado, mas é só enquanto espera. É que você tá tão lindão e cheiroso que a roupa precisa ficar assim Também, não acha?
- uhum. – respondeu desconfiado.
Fomos juntos no quarto e ele quis vestir minha blusa do Flamengo. Ficou realmente engraçado. A blusa chegava ao joelho dele. O short era um de corrida, da época que eu era menor porque corria.
Sentou na pontinha do sofá, como quem não quer parecer à vontade demais, invasivo.
Quis trazer o almoço pra ele na sala, pra comer diante da TV, porque me arrependera de tê-lo feito decidir entre a comida e à tv, mas daí pensei que era melhor não.
Talvez essa tenha sido a primeira vez que alguém lhe tenha dado a chance de escolher. Não podia estragar tudo.
Depois de algum tempo assistindo desenhos, perguntei:
- Tá com fome agora? Vamos na cozinha almoçar?
Ele estava vidrado na TV:
- Tô com fome agora não.
- A gente pode comer e voltar pra sala. A TV não vai sair correndo.
Ele concordou.
- Mistura pra mim também? – perguntou enquanto eu o servia de carne moída, em cima do purê de batata, como gostava no meu prato.
- Ué, por que não?
- É que em casa, quando tem mistura, é só pros adultos.
Eu perdi a fome. Olhei pro meu prato e o imaginei vazio. Depois, só com arroz, e só com o feijão, e depois só com a batata. E tive nojo da carne moída.
Comi assim mesmo. Comia rápido, querendo que aquilo acabasse logo.
Ele comia devagar, querendo talvez que durasse pra sempre? Esquecera da TV? Essas idéias me furaram o estômago.
Não comeu mais do que estava em seu prato; eu nem coloquei muito. Não repetiu e também não deixou nada.
- Posso pegar um pouco d’água? – ele tava sorrindo. Eu querendo chorar.
- Claro, tem copo ali. – e foi até o filtro. Gostou do botão do filtro.
Encheu o copo de água bem gelada, que doeu no dente:
- Ai, – sorrindo de novo – vou ter que esperar esquentar um pouco. – Estava de repente tímido, como se tivesse feito uma travessura, ou como se tivesse abusado da minha hospitalidade, enchendo o copo com meu raríssimo artigo de luxo: a água gelada pelo filtro com botão e luzinha.
Eu sorri envergonhada. Envergonhada de mim, do meu país, do meu filtro. Ele não percebeu e me perdoou:
- Vamos ver TV, tia? Daqui a pouco tenho que ir embora.
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