Não tem jeito de despedida essa última vez que faço o caminho de você para meu trabalho. Deve ser a ficha entalada na garganta junto com as milhares de coisas que tenho pra te dizer. Ficha que não caiu, palavras que me fogem boca adentro e se perdem dentro de mim, se escondem em meus pulmões, brigam espaço com minhas veias, furam meu estômago, meus ossos, causando dor, asfixiando, fazendo chorar.
Há tanto ainda a ser dito...
Obrigada.
Por você ter se jogado, ter se permitido.
Obrigada.
Por você ter me correspondido, por ter se empenhado.
Obrigada.
Por você ter confiado em mim para chorar, para ser.
Obrigada.
Por ter me dado a família que sempre quis e por acreditar nela. Eu acredito.
Obrigada.
Por cada momentinho inédito ou não que foi especial por ter sido só nosso.
Obrigada.
Por me achar linda e me dizer e me mostrar.
Obrigada.
Por me criticar, me brigar, me reclamar, me corrigir, me melhorar.
Obrigada.
Por me ouvir, me entender, por argumentar.
Obrigada.
Por me incentivar, acreditar em mim, me emocionar...
Obrigada.
Por ecrever, por cantar, por contar, por tocar, por pedalar
para eu ler, ouvir, chorar, acompanhar, vibrar.
Obrigada.
Por ter tentado tudo, por ter pedido pra eu ficar, por ter se arrependido, por ter me querido tanto, por ter me amado o muito, por ter me libertado.
Obrigada.
Por ter sido a melhor parte de mim e por permanecer.
Obrigada.
sábado, agosto 18, 2007
Culpa
Existe um lugar no ano que permite que sejamos
Existe um vazio na melodia que permite um improviso
Existe uma distância entre o “ser ou não ser” que grita uma fuga
Existe um lugar aonde dentro de cada um acontece o encontro com o pior de si
Existe um vazio no lugar comum que permite uma queda
Existe uma distância entre o passo e o ficar que sugere a hesitação
Existe um lugar onde há perdão
Existe um vazio onde se esconde a culpa
Existe uma distância entre nós dois que é nada mais que uma desculpa
Existe a desculpa
A des-culpa.
Existe um vazio na melodia que permite um improviso
Existe uma distância entre o “ser ou não ser” que grita uma fuga
Existe um lugar aonde dentro de cada um acontece o encontro com o pior de si
Existe um vazio no lugar comum que permite uma queda
Existe uma distância entre o passo e o ficar que sugere a hesitação
Existe um lugar onde há perdão
Existe um vazio onde se esconde a culpa
Existe uma distância entre nós dois que é nada mais que uma desculpa
Existe a desculpa
A des-culpa.
Por amor
Ele a olha tristemente
Sente-se vencido, já nem canta mais
Ela sabe o que fazer
“E se ele não sobreviver?”
“E se eu não sobreviver?”
A garotinha agarra no banco, posiciona-o diante da janela escancarada, trepa nele com cuidado de equilibrista, estica-se para cima e com algum esforço (porque o outro algum, que completaria o todo, não tinha certeza) ampara a gaiola com uma das mãos enquanto deixa correr a outra sobre a portinhola que se abre lentamente. O passarinho hesita um segundo, a menina sente seu coração bater mais forte, então ele toma a decisão e ganha o azul do céu. Ela nem pôde tocar-lhe as penas pela última vez. No entanto acompanha seu vôo céu afora com um sorriso, os olhos miúdos querendo chorar e o coração apertado meio triste, meio feliz. Metade saudade, metade coragem.
Se ela logo fechou a janela e foi ver os desenhos ou se ficou a sofrer em sua cama a falta que lhe fazia o bichinho, não sabemos. Há quem diga que depressa voltou-se para suas bonecas e que vestia-as e penteava-as. Numa um rabo-de-cavalo, na outra os sapatos de fivela. Mas que de noite, quando se foi deitar, apesar do frio lá fora, deixou entreaberta a janela aonde ainda pendia a gaiola.
Sente-se vencido, já nem canta mais
Ela sabe o que fazer
“E se ele não sobreviver?”
“E se eu não sobreviver?”
A garotinha agarra no banco, posiciona-o diante da janela escancarada, trepa nele com cuidado de equilibrista, estica-se para cima e com algum esforço (porque o outro algum, que completaria o todo, não tinha certeza) ampara a gaiola com uma das mãos enquanto deixa correr a outra sobre a portinhola que se abre lentamente. O passarinho hesita um segundo, a menina sente seu coração bater mais forte, então ele toma a decisão e ganha o azul do céu. Ela nem pôde tocar-lhe as penas pela última vez. No entanto acompanha seu vôo céu afora com um sorriso, os olhos miúdos querendo chorar e o coração apertado meio triste, meio feliz. Metade saudade, metade coragem.
Se ela logo fechou a janela e foi ver os desenhos ou se ficou a sofrer em sua cama a falta que lhe fazia o bichinho, não sabemos. Há quem diga que depressa voltou-se para suas bonecas e que vestia-as e penteava-as. Numa um rabo-de-cavalo, na outra os sapatos de fivela. Mas que de noite, quando se foi deitar, apesar do frio lá fora, deixou entreaberta a janela aonde ainda pendia a gaiola.
Por fim
Que te dei eu?
O impulso para acreditares que funcionaria
O impulso que te falta para tudo
O impulso.
É isso que sou, é o que tenho.
Aquele impulso que te leva a dar o primeiro passo para não estares parado.
O mesmo impulso que amaldiçoas por te encontrares agora perdido num caminho que nem fazes idéia. Caminho esse que te culpas por teres escolhido e nem lembras se de fato escolheste.
Um caminho que já não queres apesar dos inúmeros “e se...?” que, sabes, carregarias para sempre.
Pois bem. Que seja minha a mão a guiar-te. Deixa cair sobre ela a última gota de confiança que tens guardada.
Não te desapontarei. Também eu tenho razões para me redimir. Tenho sim responsabilidade por ter te empurrado a um caminho que já não posso prometer não haver abismos porque, de sinuoso que é, perdeu-se da minha visão ele também.
Aceita minha mão pela última vez.
E não perguntes se estou certa do que faço pois para mim, a certeza é estrepe. Mas sossega se te digo que ver-te em paz serve-me de alento.
Trilharei novos rumos, terei outras companhias que isto é fatal.
Mas não antes de te deixar em terra firme onde te sintas seguro e possas respirar e enfim percorrer com tuas próprias pernas os lugares que te coração inventar porque que ele se engana, se engana. Mas só quer acertar.
O impulso para acreditares que funcionaria
O impulso que te falta para tudo
O impulso.
É isso que sou, é o que tenho.
Aquele impulso que te leva a dar o primeiro passo para não estares parado.
O mesmo impulso que amaldiçoas por te encontrares agora perdido num caminho que nem fazes idéia. Caminho esse que te culpas por teres escolhido e nem lembras se de fato escolheste.
Um caminho que já não queres apesar dos inúmeros “e se...?” que, sabes, carregarias para sempre.
Pois bem. Que seja minha a mão a guiar-te. Deixa cair sobre ela a última gota de confiança que tens guardada.
Não te desapontarei. Também eu tenho razões para me redimir. Tenho sim responsabilidade por ter te empurrado a um caminho que já não posso prometer não haver abismos porque, de sinuoso que é, perdeu-se da minha visão ele também.
Aceita minha mão pela última vez.
E não perguntes se estou certa do que faço pois para mim, a certeza é estrepe. Mas sossega se te digo que ver-te em paz serve-me de alento.
Trilharei novos rumos, terei outras companhias que isto é fatal.
Mas não antes de te deixar em terra firme onde te sintas seguro e possas respirar e enfim percorrer com tuas próprias pernas os lugares que te coração inventar porque que ele se engana, se engana. Mas só quer acertar.
Puta da vida
Puta da vida.
É isso que eu quero ser quando eu crescer
Andar pela noite colorida que nem borboleta, mascar chiclete com a boca aberta...
Fazer sucesso com os rapazes.
Usar as roupas mais doidas sem que ninguém me encha o saco.
Fazer o quiser com meus cabelos. Vou pintar de loiro. Loiro com mechas ruivas. Ruivas, não! Cor-de-rosa.
As unhas serão sempre vermelhas e com glitter. Aliás vou usar glitter nos olhos também, por cima da sombra azul. Cílios postiços... ou não, às vezes um bom rímel resolve.
Eu vou poder fumar cigarro!!
Ninguém se incomodará, aposto. Ainda mais se eu estiver usando um vestido bem decotado. Vermelho.
Eu vou dar pra quem eu quiser!
Jamais ouvirei alguém me dizer: “Nada de sapatos de salto, fazem mal pra coluna.” HAHAHA...
Meus saltos serão os mais altos!
E eu vou andar neles sem cair. E vou rebolar muito quando andar. Todo mundo vai me chamar de gostosa.
Ah. E eu também vou mudar de nome. Meu nome será... Pietra. Pietra, A puta. E nunca mais vou ouvir : “Alice Paula Matoso Vieira” O que sempre me deixou muito, muito puta da vida.
É isso que eu quero ser quando eu crescer
Andar pela noite colorida que nem borboleta, mascar chiclete com a boca aberta...
Fazer sucesso com os rapazes.
Usar as roupas mais doidas sem que ninguém me encha o saco.
Fazer o quiser com meus cabelos. Vou pintar de loiro. Loiro com mechas ruivas. Ruivas, não! Cor-de-rosa.
As unhas serão sempre vermelhas e com glitter. Aliás vou usar glitter nos olhos também, por cima da sombra azul. Cílios postiços... ou não, às vezes um bom rímel resolve.
Eu vou poder fumar cigarro!!
Ninguém se incomodará, aposto. Ainda mais se eu estiver usando um vestido bem decotado. Vermelho.
Eu vou dar pra quem eu quiser!
Jamais ouvirei alguém me dizer: “Nada de sapatos de salto, fazem mal pra coluna.” HAHAHA...
Meus saltos serão os mais altos!
E eu vou andar neles sem cair. E vou rebolar muito quando andar. Todo mundo vai me chamar de gostosa.
Ah. E eu também vou mudar de nome. Meu nome será... Pietra. Pietra, A puta. E nunca mais vou ouvir : “Alice Paula Matoso Vieira” O que sempre me deixou muito, muito puta da vida.
Solidão
Antes que eu pudesse ver de novo, sumiu.
E o que nada era antes continuou.
Então foi estando assim, foi permanecendo
Eu olhando e vendo aquilo
aquilo que continuava nada como antes
Não sendo vazio nem cheio, não sendo
Eu ali parado a pouca distância daquilo
Olhando fixamente para encontrar
E fui caminhando em sua direção lentamente
com cuidado de quem não quer ser escutado
e tomei o seu lugar.
Aquilo agora ocupava todo meu redor.
Ao redor havia mais nada
e só isso comprova que eu estive ali
Então comecei a correr de um nada pro outro
Tomando furiosamente seu lugar
Preenchendo o espaço
E de tão rápido que eu era
me via no caminho quando já havia chegado
E a idéia do nada estar povoado de mim me fez parar
Eu preferia estar só.
E o que nada era antes continuou.
Então foi estando assim, foi permanecendo
Eu olhando e vendo aquilo
aquilo que continuava nada como antes
Não sendo vazio nem cheio, não sendo
Eu ali parado a pouca distância daquilo
Olhando fixamente para encontrar
E fui caminhando em sua direção lentamente
com cuidado de quem não quer ser escutado
e tomei o seu lugar.
Aquilo agora ocupava todo meu redor.
Ao redor havia mais nada
e só isso comprova que eu estive ali
Então comecei a correr de um nada pro outro
Tomando furiosamente seu lugar
Preenchendo o espaço
E de tão rápido que eu era
me via no caminho quando já havia chegado
E a idéia do nada estar povoado de mim me fez parar
Eu preferia estar só.
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