Mexo

Mexo
:::em tudo (foto: Rafael Bertelli)

sábado, maio 10, 2008

Embora

Lembra de ontem quando saiu lá de casa deixando o ar ainda quente, partindo em direção oposta?
Eu ainda recobrava minha lucidez buscando seus pedaços nos cantos do teto e dos móveis porque ela sempre sucumbia ao seu toque mais sutil e despedaçara-se já no primeiro, o da campanhia. E ainda que resolvesse, enfim, usar a chave não resistiria ao som dos seus passos.
Eu estou sob sua pele, meu oxigênio estão nos seus pêlos. Fragmentos do seu corpo são minha memória mais recente e é tudo muito colorido...
Seus olhos, suas orelhas, seus dentes, o dedo indicador direito, o joelho, atrás do joelho, o antebraço esquerdo onde eu ficara agarrada por minutos a fio ouvindo seu sangue correr nas veias azuis proeminentes, tão certa de que você existe, tão feliz por você ser vivo!
Lembra de ontem quando saiu lá de casa deixando o ar ainda quente, partindo em direção oposta?
O barulho da chave no aparador não me enganou. Era a sua. Era a última vez.

Um comentário:

Natasha disse...

Me agarro em suas verdades