Tem um pouco de febre a pele brilhante daquela mulher no trem
sentada de olho abaixado, pescoco suado, boca entreaberta de quem nao consegue respirar.
A garganta seca, o olho quer fechar. Dorme a mulher febril, a boca agora escancara
nem percebe a coitada, ta dormente, ta doente. Tem febre, tem sono, e a garganta ferrada.
Talvez eu tenha que queimar o leite. Queimar alho e acucar no leite pra ela suar. Talvez eu tenha que agasalhar bem ela, usar umas compressas frias, ficar de olho e acucar nela. Deitar do seu lado vendo tv bem baixinho pra nao atrapalhar o sono de boca esparramada, que nao percebe nada, so quer repirar.
O leite de alho e acucar fazendo efeito. Eu vejo brotar no seu peito umas gotinhas minusculas de suor.
Eu penso comigo e falo com as gotas que elas seriam boas se levassem a febre consigo. Eu meio que fiz o pedido.
Foi ficando quente e o cobertor perturbou a doente que se mexeu, chutou, sentou, arrancou blusa, levantou cabelo e deitou de novo. Tudo de olho fechado, tudo dormindo, sem nem me notar do lado. Achei graca, ri.
Me bateu uma docura imensa assim de olhar pra ela, toda suada, peitos e boca esparramados, cobertor enrolado nas canelas. Me bateu calma, me bateu sono. Estiquei o cobertor em cima de nos dois, beijei sua testa suada. A febre cedia. Deliguei a televisao.
terça-feira, maio 20, 2014
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