Caiu uma mão na avenida do centro.
Assim bem no meio,
bem na mosca,
tipo um tapa na cara,
bem na lata.
Quem viu no chão, olhou pra cima.
Buscou no alto explicação
porque jamais se esquece que há gravidade,
que nada suspende.
Caiu pra baixo, tem que ter vindo de cima.
Mas ninguém achou nada.
Os prédios e suas janelas fechadas,
outros nem janela tinham.
Alguém chutou a mão pra calçada.
A mão parecia que chamava.
"Tá viva!" gritou um.
Pisaram nela para matar.
A mão agarrou sola, escalou tornozelo, joelho, coxa, quadril, cintura, peito, ombro e
bem ali, no pé da orelha, Plaf! Tabefe.
Bem na lata.
Todo mundo fingiu que não viu.
Ninguém procurou.
Ninguém se meteu.
A mão despencou la de cima do ombro,
caiu outra vez no chão.
As pessoas ja não se importavam.
Com exceção daquela mulher que pegou na mão,
levou-a a seu colo e lhe pertitiu acariciar seus cabelos.
Beijou os dedos da mão.
A mão toda suja de calçada.
A mão e a moça ali no meio do pavimento.
Todo mundo fingiu que não viu.
Ninguém procurou.
Ninguém se meteu.
Deram-se uma a mão da outra e
seguiram juntas embora.
A mão levada dali da avenida do centro
onde caiu de onde nunca se soube.