Estou lembrando do meu amor de escola
daquele jeito todo dele de cheirar o meu cabelo
de me ajudar com os trabalhos
de me levar pela mão até em casa
Tínhamos um beijo de dentes batidos
um abraço afogado, uma urgência nos olhares,
uma timidez nos gestos
e quatro mãos curiosas, exploradoras e cegas
E tínhamos física e química e espanhol
tal idioma maldito que se embolava nas nossas línguas
e a dele na minha, e a minha na dele
olhos bem fechados pra não escapar a concentração
Então a vida deu um salto pra fora
a minha para lá, a dele para cá
E fomos nos encontrar por acaso e falar da adolescência
e rir com as lembranças
E se encontraram também nossos lábios, afinal
e os dentes não se batiam mais
os dentes agora mordiscavam língua, lábios e pescoço
porque perdera-se a timidez dos gestos
E fomos embora juntos, eu para cá, ele também
e nos amamos tão adultos
e apesar das mesmas mãos curiosas,
os olhos eram abertos pra não escapar o momento
E fomos acordando devagar
e nos arrumamos devagar e nos abraçamos numa respiração longa
e nos olhamos pela última vez
com a calma de quem sabe que a vida não pára de saltar
*Ao Diego Machado, meu amor de escola
sábado, fevereiro 02, 2008
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