Mexo

Mexo
:::em tudo (foto: Rafael Bertelli)

quarta-feira, agosto 30, 2006

Terra-firme

Eu estou ao teu redor - quero pensar.
Na margem
A vigiar teus olhos
Para não baixarem

Soltas, correm tuas mãos
propagando as ondas
que me gritam aos ouvidos
coisas que mais temo
As ondas que me trazem
de volta para praia
cada vez que, confiante
me jogo n'água
E que, vez em quando
vêm molhar meus pés
para mostrar o tanto
que me cabe
e eu agradeço.

Posso notar teus olhos baixarem
Te alerto - Erros devem ser admitidos
Tu te esforças
é verdade
Me orgulha ver

Do meio do lago
olhos duros para frente
percebes meus sorrisos?
Não atentas que aceno?

Me arraste para o lago
não queres?
Nademos juntos
não queres?
Não baixa teus olhos
não vês?
Me afogo fora d'água

sexta-feira, agosto 18, 2006

Delírio

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci...

Olavo Bilac

Belíssimo.